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Desvendando o mistério da dormência em patógenos alimentares para uma eliminação mais eficaz

Ilustração Desvendando o mistério da dormência em patógenos alimentares para uma eliminação mais eficaz

A Listeria monocytogenes, bactéria causadora da listeriose, uma doença grave, pode entrar em dormência quando confrontada com stress ambiental, por exemplo, na presença de detergentes ou em água desprovida de nutrientes. Torna-se então indetectável pelos testes habitualmente utilizados na indústria alimentar e nos hospitais, representando assim um grande risco para a saúde. Cientistas do INRAE, em colaboração com o Instituto Pasteur, descobriram os mecanismos por trás desta dormência e desenvolveram um método de detecção específico. Estes resultados, publicados na Nature Communications, lançam uma nova luz sobre a dormência bacteriana e abrem perspectivas para uma melhor gestão dos riscos para a saúde.

Os testes de detecção habitualmente utilizados para verificar a ausência de micróbios nos hospitais ou na indústria agro-alimentar baseiam-se no crescimento microbiano, ou seja, no cultivo laboratorial de microrganismos a partir de uma amostra a verificar. Se nenhum microrganismo aparecer durante o cultivo, a amostra é considerada segura. Mas face aos múltiplos stresses encontrados nestes ambientes (presença de desinfectantes ou detergentes), algumas bactérias entram num estado dormente, conhecido como “viável mas não cultivável” (VBNC), tornando-as indetectáveis ​​por testes baseados em crescimento. Bactérias patogênicas em estado VBNC podem “acordar”, tornar-se virulentas novamente e, portanto, representar um sério risco à saúde.

Listeria monocytogenes é uma bactéria onipresente no meio ambiente (solo, rios, lagos, plantas). É responsável pela listeriose, uma doença de origem alimentar com taxa de mortalidade de até 30% em humanos. Estudos anteriores demonstraram que esta bactéria é capaz de entrar num estado VBNC quando exposta a ambientes aquáticos artificiais, mas os mecanismos subjacentes permanecem pouco compreendidos. É por isso que a equipa de investigação se propôs a compreender melhor este fenómeno, a fim de desenvolver estratégias eficazes de detecção e eliminação.

Uma mudança de forma na dormência e um teste para detectá-la

Para entender os mecanismos por trás da dormência de L. monocytogenesos cientistas expuseram essas bactérias à água mineral de nascente, um ambiente pobre em nutrientes que as faz entrar no estado de dormência VBNC. Eles descobriram que durante a transição para o estado VBNC, a bactéria perde sua forma inicial de bastonete e torna-se redonda. Essa transformação radical se deve à perda de sua parede celular, estrutura que lhe confere forma e a protege. Apesar da ausência de parede celular, as formas dormentes da bactéria são altamente resistentes e adaptam-se aos desequilíbrios físico-químicos, modificando a sua membrana e produzindo proteínas específicas. Os pesquisadores desenvolveram anticorpos capazes de detectar especificamente L. monocytogenes bactérias em estado dormente, o que permitirá o desenvolvimento de testes específicos para detectá-las.

Estes resultados revelam o papel crucial da parede bacteriana na formação do estado VBNC em L. monocytogenes. Esta adaptação pode ser frequente e, portanto, favorecer a formação de reservatórios de patógenos indetectáveis, representando um grave risco para a saúde pública. A equipa de investigação continua o seu trabalho para identificar outros factores que governam o estado dormente, as condições que permitem que esta bactéria se torne activa e patogénica novamente, e para desenvolver ferramentas para detectá-la especificamente para uma melhor protecção.

Referência

Carvalho F. et al. (2024). O ambiente aquático impulsiona o surgimento de formas dormentes com deficiência de parede celular em Listeria. Comunicações da Natureza. DOI: 10.1038/s41467’024 -52633-7

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